(Publicado originalmente em Sex, 03 de Abril de 2009 12:34)
Eduardo Galeano: uma piada de humor negro
Matéria de hoje no site do Globo indica que a crise mundial já custou ao Brasil R$ 475 bilhões. Agora vem o G-20, entidade da qual o governo brasileiro é inspirador e partícipe, nos exigir uma contribuição ainda não revelada mas que beiraria os US$ 5 bilhões para o FMI. (Na verdade, 10 bi, como o Globo divulgou no sábado, 04/09, que serão retirados de nossas reservas, hoje montando a 202 bi.)
A foto oficial ao lado mostra nosso presidente Lula sentado ao lado da rainha da Inglaterra, Elizabeth II. O presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, não ficou por baixo nas amabilidades: postou-se atrás de Lula, e ainda de pé. Mais tarde, Obama se perderia em mais elogios ao chefe do estado brasileiro: “Eu adoro este cara. Ele é o líder mais popular da terra”, disse entre brincando e sério.
A conta não demoraria a chegar: a volta do Brasil ao FMI e ainda tendo que fazer uma contriuição para o soerguimento deste fundo, que andava mal das pernas, depois que nós e outros países menos dependentes saudamos nossas dívidas para com ele. Só faltaram exigir do Brasil que mandasse nossos soldados lutar no Afeganistão, como já o fizeram com a Colômbia.
A segunda reunião do G20, denominado o grupo das 20 nações mais ricas, e detentor de 85% do PIB mundial, ocorrida nos dias 2 e 3 de abril, em Londres, implicou, com efeito, não na supressão, como alguns desavisados cogitaram, mas na consolidação da política financeira imposta pelas grandes potências, em Bretton Woods (Estado de New Hampshire, EUA), em julho de1944. Foi lá que surgiu o famigerado FMI, Fundo Monetário Internacional, repudiado no mundo inteiro e no Brasil, desde o Governo JK (1956-1961), que com ele rompeu. Ironia da história: o FMI serve-se agora do pretenso progressista G20 para reforçar seu caixa em US$ 750 bi.
Não foi há pouco que o Governo Lula entrou para a história como o primeiro a quitar nossas dívidas com o Fundo? E o fez justamente para se livrar das amarras que impõe aquele organismo, juntamente com a sua agência financiadora, o Banco Mundial: medidas fiscais extremas que impedem o desenvolvimento, geram desemprego massivo, a privatização e o desmantelamento de nosso aparelho de estado.
É, mas o jogo das grandes potências é pesado. O G20 – um ampliação do G8 (estas, sim, as oito nações mais ricas do planeta) – tinha sido criado, por sugestão de Lula, com o propósito claro de dar voz às nações em desenvolvimento. De nada adiantou, a não ser para pousar de poderosos naquelas fotos.
Aqueles que aguardavam uma nova ordem destinada a regular o mercado financeiro, freando as especulações e os abusos dos bancos, e propiciar uma ajuda, ainda que indireta, aos países menos abastados, acabaram frustrados. E foram obrigados a arcar mais com os prejuízos e, além de ajudar na salvação dos títulos podres dos grandes bancos internacionais. Como se sabe, estes títulos são quase todos produtos de calotes dados nas economias menos evoluídas.
Ninguém duvida que a quase totalidade do fundo de US$ 1,1 trilhão (dos quais 750 bi para o FMI), acertado na última reunião do G20, vai para esses títulos podres ou tóxicos. Nada para o desemprego causado pela crise, que, só no Brasil, já chega a 700 mil, nem para os desabrigados da chamada subprime, os milhões de americanos obrigados a entregar suas casas por falta de recursos para pagar suas hipotecas… Nada para o estímulo ao desenvolvimento, à diminuição da pobreza
E nós, que já tinhamos nos livrado do FMI, voltamos de novo para o colo dele, com a solene promessa do G20 para, desta vez, funcionar como “gestores” do fundo e não mais como seus dependentes. Acredite quem quiser, afinal Lula disse que isto é “fazer história”.