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A OEA já não é tão vassala

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(Publicado roiginalmente em Qua, 03 de Junho de 2009 17:01)

Por FC Leite Filho

A revogação, hoje, do decreto que expulsou Cuba da OEA, depois de 47 anos de humilhante e vergonhosa vigência, representa, sem dúvida, mais um passo na direção da unidade latino-americana e a progressiva equidistância de Washington. Recorde-se que a decisão, adotada por aclamação, na reunião da Assembléia Geral da Orgaização dos Estados Americanos, em San Pedro Sula, Honduras, foi adotada em aberta oposição à postura dos norte-americanos. Estes exigiam, como assinalou a secretária de Estado Hillary Clinton, que o “regime cubano desse passos na direção da democracia”.

Hillary, no entanto, se sentiu isolada e foi embora. Naquele encontro de chanceleres dos 35 estados-membros, o sentimento dominante, como aliás ficara demonstrado na Cúpula das Américas, a primeira com o presidente Barak Obama, em Trinidad Tobago, em maio último, era de “basta” de perseguição a Cuba. Não havia porque continuar isolando um país soberano, vítima de nefando bloqueio de quase 50 anos, por parte da superpotência do Norte.

Poder-se-ia atribuir o fato a um efeito Obama, mas tal não procede. Este é um processo que vem se desenvolvendo há algum tempo. Há dois anos, a então secretária Condoleezza Rice, do ultra-radical governo W. Bush, havia abandonado outra Assembléia da OEA, então realizada na cidade do Panamá (04/06/2007). Motivo: ficara falando sozinha, ao defender sanções contra o Governo Hugo Chávez, da Venezuela, que acabara de negar estender concessão à televisão RCTV. Como Clinton, Rice abandonou a assembléia. A OEA, simplesmente, não lhe deu ouvidos e a coisa ficou por isso mesmo: a estação de TV que conspirara contra a democracia e o governo legitimamente constituído foi posta fora do ar em Caracas.

Nesta 39a. Assembléia, Hillary Clinton deixou em seu lugar o subsecretário para Assuntos Americanos Thomas Shannon (ele acaba de ser designado como novo embaixador dos EUA no Brasil), o qual, impotente para reverter a esmagadora maioria, acompanhou o voto pró-Cuba. E fez um discurso conciliador afirmando que aquele ato representava um fortalecimento para a organização.

Outro fator preponderante, ao longo dessa caminhada, foi a formalização da Unasul – União das Nações Latino-Americanas, ocorrida em 23 de maio de 2008, em Brasília, durante reunião dos 12 presidentes de países sulamericanos. Pouco depois, eclode uma crise política na Bolívia, durante a qual setores oposicionistas radicais tentaram derrubar o presidente Evo Morales e despedaçar o país. O recurso tradicional era remetido a Washington, onde fica a sede da OEA, custeada em grande parte pelo governo estadunidense, mas desta vez, o assunto foi levado à Unasul, que, de imediato deu-lhe solução.

Finalmente, a autoria da moção em favor de Cuba partiu de Honduras, justamente o país que, naquela época, mero satélite dos norte-americanos, encaminhou o documento que redundaria na expulsão de Cuba da OEA, durante a 8a. reunião da Assembléia Geral, de 31 de janeiro de 1962, em  Punta Del Este, no Uruguai. O argumento era de que o regime adotado pela ilha era incompatível com os princípios da entidade.

Honduras, agora um país integrado à Alba – Alternativa Bolivariana para a América Latina -, liderada pela Venezuela, foi quem através de sua chanceler Patrícia Rodas e também presidente da atual 39a. Assembléia, que formalizou a moção para a reintegração cubana e decretou: “La resolución VI adoptada el 31 de enero de 1962 en la Octava Reunión de Consulta de ministros de Relaciones Exteriores, mediante la cual se expulsó al Gobierno de Cuba de su participación en el Sistema Interamericano, queda sin efecto en la OEA”.

O Brasil também aplaudiu a decisão: “Hoje demos um passo histórico”, comemorou Ruy de Lima Casaes e Silva, embaixador brasileiro na OEA. “Enterramos o cadáver insepulto que era um obstáculo para um sistema interamericano inclusivo e solidário.”

Veja ainda:

Vídeo da decisão da OEA

Artigo de Fidel sobre a OEA (em espanhol)

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