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Chega o livro “A Segunda Guerra Fria”, de Moniz Bandeira

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Os Estados Unidos por trás das revoltas da chamada Primavera Árabe e como mentor dos atos de terrorismo de Estado no Oriente Médio, são algumas das conclusões do novo livro do cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, há 17 anos residindo na Alemanha, e que chega ao Brasil sob o título “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e Oriente Médio”. É lançado pela Editora Civilização Brasileira, com prefácio do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Aprofundando e atualizando as questões apresentadas em “Formação do Império Americano”, seu último livro sobre a região, de 2005, traduzido até para o chinês, o autor de mais de 20 obras e considerado a maior autoridade na análise da influência da política norte-americana no Brasil e no continente, faz algumas revelações, nesta obra, que deixariam pasmado qualquer observador menos atento da cena internacional:

“Foram a CIA e o Inter-Services Intelligence (ISI) do Paquistão e o Ri’ãsat Al-Istikhbãrãt Al-‘Ãmah, o serviço de inteligência da Arábia Saudita, que institucionalizaram o terrorismo em larga escala, com o estabelecimento de campos de treinamento no Afeganistão, a fim de combater as tropas da União Soviética (1979-1989), fornecendo aos mujahin toda sorte de recursos e sofisticados petrechos bélicos – de 300 a 500 mísseis antiaéreos Stinger, dos Estados Unidos”. Antes, ele havia assinalado logo no início, à página 37, que o terrorismo, na realidade, não era novo e nos anos 1960 e 1970, tanto a Organização para a Liberação da Palestina (OLP), quanto a Frente de Libertação Nacional (FLN), da Argélia, e a Frente de Libertação da Eritreia (FLE) recorreram a esse método de luta, sem que configurasse ameaça internacional. Tais ações seriam parte da estratégia dos Estados Unidos e da Europa para travar a influência, primeiro da União Soviética, e depois  da Rússia e da China naquela parte do mundo que controla dois terços da produção mundial de petróleo.

Entrevista com o autor, por Carta Maior

Outros dados da operação afegã:”A CIA forneceu em torno de 3,3 bilhões de dólares, dos quais pelo menos a metade proveio da Arábia Saudita. Mais de US$ 250 milhões fluíam mensalmente, para os mujahidin da Arábia Saudita e de outros países árabes… Entrementes, agentes do ISI e da CIA recrutavam e treinavam entre 16.000 e 18 mil mujahihin, aos quais Usamah (Osama) bin Ladin uniu um contingente de 35.000 árabes-afegãos. O MI6 (Secret Intelligenece Service), da Grã Bretanha, também colaborou na operação, apoiando, com equipamentos de rádio e instrutores, os mujahidin de Ahmad Shah Massoud (1953-2001), um sunita-afegão-tadjique que posteriormente comandaria a Aliança Norte contra os Talibãs”.

O livro, de  714 páginas, é muito minucioso e didático, mostrando, com abundantes mapas, gráficos e documentos confidenciais, cada uma das situações da região, abalada mais recentemente com as revoltas iniciadas na Tunísia, Líbia, Egito, Yemen e Síria. Cada episódio vem encadeado em capítulos sempre precedidos de resumo e de ementas. São exemplos as razões profundas da derrubada e do linchamento físico do ex-homem forte da Líbia, Muammar Gadaffi, na Líbia, a resistência do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, e a impopularidade dos rebeldes sírios, por devastarem as cidades e o embuste dos direitos humanos, usado pelas grandes potências potências para justificar sua intervenção.

Quanto à Líbia, o livro relata a política de boa vizinhança tentada por Gaddafi, que incluiu a renúncia à energia nuclear, o restabelecimento de relações com Washington, Londres e Paris. Mas o que se viu em seguida foi “a revolução fabricada pelo DSGE da França, a matança de entre 90.000 e 120.000 pessoas, Gaddafi linchado, brutalizado, abusado, assassinado”. O resultado do que ele chama de disputa pelo “sramble” petrolífero foi que a Líbia virou “um país sem governo e sem Estado, o vacuum político e as disputas tribais”.

Videoentrevista pelo Skype ao Café na Política (03/08/13)

Sobre os rebeldes sírios, Moniz Bandeira sustenta que eles estão perdendo crucial apoio interno, devido a atos predatórios, destruição de patrimônios sem o menor sentido político, comportamento criminoso, arrogância e crueldade, matanças a sangue frio de prisioneiros, de soldados do Exército legalista, “a perpetuar a violência, uma guerra de atritos devastadora”. Sobre o recrutamento dos rebeldes, ele cita informação do jornalista Aaron Klein, de Jerusalém, de que o embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, morto no assalto ao consulado em Benghazi no ano passado, desempenhou um papel central no recrutamento de jihadistas para lutar contra o regime de Bashar Al-Assad. Serviu como key-contact com os sauditas a fim de coordenar o recrutamento de jihadistas islâmicos da Arábia Saudita,da Líbia e da África do Norte e enviá-los para a Síria através da Turquia”.

Lição para a América Latina” – No prefácio à “Segunda Guerra Fria, o embaixador e ex-ministro Samuel Pinheiro Guimarães, um dos arquitetos da política externa independente do presidente Lula da Silva, adverte: “Há uma lição a tirar para os países da América do Sul, que procuram um caminho de autonomia ao Império Americano. As informações recolhidas e analisadas por Moniz Bandeira revelam a atuação orquestrada de grandes potências, de ONGs, da mídia, de fundações privadas e públicas para financiar a mudança de governos nos países que consideram relevantes e sua determinação de usar técnicas mais atentatórias dos direitos humanos tais como kill-capture, isto é, matar e depois capturar o corpo, o uso da tortura, os assassinatos seletivos e o uso de drones, aviões sem piloto, e agora o controle global das informações, que prenunciam as batalhas futuras automatizadas e eletrônicas contra as províncias rebeldes que buscarem sua independência em relação à metrópole imperial”.

Samuel termina o prefácio fazendo um novo alerta: “Enquanto o Brasil não procurar controlar as megaempresas multinacionais em seu território para levá-las a cooperar com seu desenvolvimento tecnológico e troná-lo autônomo; enquanto não procurar ter competência militar para se defender e dissuadir; enquanto não decidir democratizar a mídia, instrumento de poder, democratizando a opinião; enquanto limitar suas ambições de desenvolvimento, ficaremos a salvo e aplaudidos. A salvo, subjugados, satisfeitos e conformados em nossa condição de de grande Estado periférico. Assim nos ensina Moniz Bandeira”.

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A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e Dimensão Estratégica dos Estados Unidos – Luiz Alberto Moniz Bandeira
Autor: Luiz Alberto Moniz Bandeira
Editora: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
Ano de Edição: 2013
Nº de Páginas: 714
Preço: R$ 80,00

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