A presidenta Dilma Rousseff e três ex-presidentes da República, Luiz Iácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor, participam na quinta-feira (14/11/13), às 12h, da solenidade de honra ao ex-presidente João Marques Belchior Goulart, o Jango. Ele receberá honras de chefe de Estado. A cerimônia será na Base Aérea brasileira e todos os ex-presidentes foram convidados. Essa será uma forma de homenagear o ex-presidente que, na época, não contou com esse ritual concedido aos chefes da Nação. Jango receberá as honras militares que compreendem, entre outros aspectos, salva de 21 tiros, execução do hino nacional e condução do esquife com os restos mortais por militares até o local onde será prestada a homenagem.
O corpo de Jango permanecerá na capital federal até 6 de dezembro. A exumação dos restos mortais do ex-presidente, que teve início nesta quarta-feira (13), no Cemitério Jardim da Paz, na cidade de São Borja (RS), foi concluída com êxito após pouco mais de 18 horas de trabalho. Concluída às 2h desta quinta, a exumação envolveu 12 profissionais do Brasil, Argentina, Cuba e Uruguai. O médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente, teve participação efetiva em todo o procedimento.
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(Por Osvaldo Maneschy) -O presidente João Goulart caiu pelos seus acertos e não pelos seus erros. A frase, atualíssima, é de Darcy Ribeiro, chefe do Gabinete Civil de Jango, que como o próprio presidente deposto em 64, Leonel Brizola, e toda uma geração de idealistas que governava o Brasil com apoio da maioria da população, eleita pelo voto, foi varrida da vida nacional para o exílio. A direita sabia que com eleições livres e diretas não chegaria ao poder. (Na foto, Jango e o general Kruel)
A história da ditadura de 1964 – que ano que vem completa 50 anos – ainda está sendo contada e novos episódios estão surgindo, como este vídeo feito por João Vicente Goulart. Todos os brasileiros preocupados com o futuro de nosso país, especialmente os jovens, precisam assistir a este vídeo para entenderem as mazelas do Brasil de hoje.
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Porque o futuro é feito do presente que, por sua vez, não existe sem o passado. Compreender a história é fundamental para que o Brasil cumpra o seu destino, tornar-se uma potência mundial – como dizia ser inevitável, o Embaixador Ítalo Zappa.
João Vicente Goulart entrevista neste vídeo o militar anistiado Erimar Pinheiro Moreira, 94 anos, que vive em Juiz de Fora, mas que servia em São Paulo em 1964 como major farmacêutico sob as ordens do General-de-Exército Amaury Kruel, comandante do II Exército, peça fundamental na queda de Jango. Kruel era considerado o mais importante chefe militar fiel a Goulart e todos esperavam que partisse dele a reação ao golpe que já estava nas ruas.
Mas ele, de forma surpreendente para todos, mudou de lado.
“O general Amaury Kruel garantiu que o presidente João Goulart não ia cair nem que ele tivesse que dar a sua vida para isto”, afirma Erimar Moreira no relato detalhado a João Vicente, gravado no vídeo, disponibilizado na internet. Só que o Governo dos Estados Unidos, além de deslocar milhares de marines e uma força tarefa (que incluía um porta-aviões, um porta-helicópteros e diversos navios de guerra) com ordens de invadir o Brasil caso houvesse reação militar a deposição de Jango- a operação “Brother Sam”; também tomou providências “não republicanas” para o sucesso do golpe como deixa claro o relato de Erimar Moreira só agora conhecido fora de círculos fechados.
No seu testemunho, também prestado em cartório, Erimar Moreira lembra que o então presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Raphael de Souza Nochese, e três outros homens desconhecidos para ele, no momento em que o golpe estava sendo desfechado, se encontraram com o general Kruel na sede do discreto laboratório que lhe pertencia, por ser um local central e discreto, próximo ao Hospital Geral de São Paulo, “sobraçando malas cheias de dólares novinhos em folha”. Dinheiro que Kruel recebeu para trair Jango, segundo Erimar Moreira.
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No dia seguinte à queda de Jango, segundo ele por ter denunciado o episódio do suborno internamente, no meio militar, Erimar Moreira foi cassado sem qualquer explicação. Após insistir em denunciar o suborno de Kruel – única explicação para sua cassaçao, foi ouvido por seu amigo pessoal, general Carlos Luis Guedes, comandante da II Região Militar, que fez questão de levar pessoalmente o seu relato, por escrito e com firma reconhecida em cartório, ao general Kruel que continuava no comando do II Exército. No encontro, Guedes exigiu de Kruel que pedisse reforma “e sumisse do mapa”. O que teria acontecido.
A juventude brasileira precisa ver este vídeo para entender, sem meias palavras, o papel dos Estados Unidos no golpe militar de 1964. (OM)