A reunião tinha ares mais de tertúlia do que um encontro macabro para atentar contra o presidente constitucional de um país supostamente amigo, além de aliado incondicional. À exceção do presidente, todos se tratavam por tu, usavam apelidos e certamente até diziam palavrão. Mas ali, no suntuoso Oval Office, o gabinete presidencial da Casa Branca, John Fitzgerald Kennedy desencadeava as ações para um golpe militar contra o Chefe de Estado brasileiro.
Neste 22 de janeiro de 2014, ano que marca o primeiro cinquentenário do Golpe de 64 e data em que Leonel Brizola completaria 92 anos de idade, cabe uma reflexão sobre o papel exato que teve o presidente John Kennedy em recorrer aos militares para depor o presidente João Goulart.
Está tudo documentado e postado na internet, pelo Miller Center of Public Affairs, da Universidade de Virgínia. creio que há mais de 10 anos. No meu livro El Caudillo Leonel Brizola, editado pela Aquariana, em 2008, eu traduzo a transcrição das fitas que peguei no site do Miller, daquela reunião determinante. ocorrida na Casa Branca, em 30 de julho de 1962 e também postada neste meu blog cafenapolitica.com.br, em 15 de dezembro desse mesmo 2008.
Do encontro, realizado entre 11h55m e 12h20m, de 30 de julho de 1962, participaram além de Kennedy e do embaixador no Brasil Lincoln Gordon, o subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Richard Goodwin e o assessor especial para Assuntos de Segurança Nacional, McGeorge Bundy
Brizola, considerado o grande empecilho na aproximação com Goulart, é citado oito vezes nos diálogos.
Clique aqui para ouvir os diálogos (em inglês)
Não sei por que tanto frenesi em torno da primazia desta informação, desatado com a publicidade do relançamento da quadrilogia do jornalista Élio Gáspari sobre a ditadura. Talvez porque a matéria respectiva da Folha afirme que “a informação é uma das novidades da reedição de “A Ditadura Envergonhada”, primeiro volume da série de Gaspari”. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo rebateu, no artigo “Que revelação é essa?”, a suposta na novidade, na Carta Capital, no que foi respaldado pelo editor Mino Carta, num vídeo postado no site da revista.
O que importa, porém, é o fato de o presidente americano ter comandado pessoalmente, na sede daquilo que é projetado como a maior democracia do mundo, uma reunião golpista e subversiva, sob todos os pontos de vista, para depor pela força bruta o presidente constitucional do Brasil. Nesta reunião, foi traçado um esboço de plano do golpe, que começaria com a mudança do adido militar, cargo para o qual foi logo designado o então coronel Vernon (Dick) Walters, adido na Itália. Sua principal credencial: falava português e era amigo do general Castello Branco (primeiro presidente da ditadura de 64), quem tinha conhecido em plena II Guerra Mundial, nos campos italianos.
Vejamos só este trecho da reunião, para termos uma dimensão da conspirata:
ÍNTEGRA
Daí a importância de reproduzir o trecho de El Caudillo, na página 187, Na verdade, esta é a primeira das gravações que o Presidente John Kennedy mandava fazer das conversas e despachos que tinha com seus interlocutores, no chamado Oval Office:
Veja também:
Transcrição das fitas em inglês
“Arquivos da Ditadura”, de Élio Gáspari
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