(Programa transmitido pela TV Cidade Livre de Brasília, Canal 12 da NET, só DF, às segundas, sete da manhã, quartas, às 19:30, e quintas, àas 13 horas)
A escalada conservadora pedindo a volta dos militares e o impedimento da presidenta Dilma, reeleita há apenas 45 dias, nos remete inexoravelmente aos tempos golpistas de antes de 64. Era a velha UDN, o partido “impoluto” do lenço branco, que bradava contra a corrupção pregando uma espécie de solução final: a convocação dos generais ou até a intervenção dos Estados Unidos.
O jornalista Breno Altman, um dos teóricos da esquerda brasileira e diretor do site operamundi.com.br, comparou, recentemente, a atuação do PSDB, partido derrotado pela quarta vez na eleição presidencial, com as táticas desesperadas do udenismo de antanho. O Café na Política foi ouvi-lo, numa de suas vindas a Brasília, nesta entrevista a FC Leite Filho, em que Altman constata uma espécie de inação da cúpula do PT, o partido vencedor. Mas ele acha que isso pode ser uma tática, tanto do PT, como de Dilma e de Lula.
– Eles costumam recuar, em situações de crise, diz Breno, tanto para analisar o cenário quanto para verificar as cartas que o adversário tem nas mãos e depois organizar a contraofensiva, ciente da disposição do tabuleiro do outro lado.
O jornalista alerta, porém, que o momento é decisivo e definidor e requer muita habilidade para enfrentá-lo. Antes, ele faz uma análise do que considera uma mudança de estratégia dos tucanos edo conjunto da direita.
Segundo ele, o PSDB, evoluiu de uma atitude recatada nas três derrotas anteriores, para uma escalada demolidora neste último revés eleitoral, empenhando-se numa estratégia de sabotagem e amparando em suas fileiras setores de ultradireita que clamam por uma intervenção militar. “O objetivo claro e, se eles tiverem força para isso, é o impedimento da presidenta”.
Sustenta que estamos diante de um novo modelo de desestabilização, destinado a criar as condições políticas e jurídicas para interromper o processo democrático. E tudo é feito com base no enfrentamento: quanto maior a polarização, mais chances teria de retirar a credibilidade do projeto petista.
Por isso, Altman considera que as forças governistas precisam repensar a sua estratégia, que não é mais a da baixa intensidade de antes dos primeiros governos Lula e Dilma e sim da alta densidade política, fazendo uma disputa de valores e de ideias na sociedade, o que não se faz, a seu ver, sem valorizar as forças populares, com a disputa militante e das ruas.
Breno Altman, finalmente, defende a pressão externa sobre o Congresso para neutralizar sua avassaladora maioria conservadora sobre as forças progressistas.