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Panelaço é início do golpe brando no Brasil

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Por FC Leite Filho
O ensaio pode não ter correspondido às expectativas, mas o panelaço deste domingo, no Brasil, para xingar a presidenta Dilma Rousseff, no momento de sua fala à nação, pode ter marcado o início do “golpe brando” ou “suave” de Gene Sharp, cujo manual ainda está em processo na Venezuela e na Argentina, mas que foi bem sucedido em Honduras, em 2009, e no Paraguai, em 2011. Deus queira que não cheguemos aos desfechos catastróficos da Líbia e da Síria, onde o plano foi aplicado com maior rigor. A população resistiu e pagou com o sacrifício de milhares de vidas humanas e o completo desmantelo de seus países, engolfados que estão na guerra civil há mais de três anos.

Como se sabe, os protestos de Caracas, em 2014, começaram candidamente, na exata proposição de Sharp, o filósofo da não violência declarada, mas depois foram seguidos de aumentos descontrolados dos preços, por parte de comerciantes gananciosos e golpistas, desabastecimento de produtos essenciais, incêndios de carros,  escolas e universidades e derrubada de cem mil árvores.
Lá, somente nos meses de fevereiro e março de 2014, morreram 43 pessoas, enquanto outras 700 resultaram feridas. Na Argentina, os natais de 2013 e 2014 foram marcados por saques, greves de policiais, ataques especulativos contra a moeda, atentados contra redes elétricas e trens. Toda a ação, praticada por indivíduos treinados em laboratórios especiais, situados no México, Colômbia e Paraguai, é destinada a dar a impressão de um estado de caos e descontrole, para justificar a derrubada do governo e a instalação no poder de grupos comprometidos com as políticas de privatizações, arrocho salarial e desemprego e relações privilegiadas com os Estados Unidos e a Europa.

Tudo de acordo com o manual de 198 ações para um golpe brando de Gene Sharp. Este ancião de 85, de gestos brandos quase parternais, desaconselha o uso bruto da força militar, como estratégia inicial. Esta só em último caso e quando o chamado golpe midiático não tiver condições de materializar-se (casos da Venezuela e Argentina). As ações vão num crescendo, começando com o panelaço e manifestações pacíficas de rua, sempre incentivando o ódio e a desobediência civil, para depois apelar para a violência, como as chamadas “guarimbas” (cortes de rua, apedrejamento de carros e posicionamento de franco-atiradores para assassinar manifestantes, atribuindo a culpa ao governo), que sacudiram a Venezuela.

Desse modo, o panelaço de ontem contra Dilma Rousseff constituiu apenas o início de uma escalada, que, pela forma como foi conduzida, demonstra alto poder de fogo. Com ações coordenadas em diversos estados pelas redes sociais tendo o respaldo expresso e engajado da mídia hegemônica, o arremedo de arruaça de ontem só não teve maior ímpeto por ter ocorrido num domingo à noite. Pode também ter empacado diante do método sugerido, o panelaço (bateção de panelas e frigideiras), que não constitui exatamente o sonho de protesto da burguesia brasileira, mais afeita aos requintes de moda, mesmo nas passeatas.

De qualquer maneira, o movimento golpista, que segue com rigor os ensinamentos contidos no manual de golpe brando do filósofo americano Gene Sharp, deu sinais de que desfruta de estrutura, organicidade e capilaridade no território brasileiro. O noticiário no site de O Globo, marcadamente parcializado, afirma grandiloquente: “Enquanto pedia paciência à população e coragem para enfrentar a corrupção, (Dilma) em um pronunciamento de 15 minutos programado para comemorar o Dia da Mulher, moradores de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Brasília, Belo Horizonte, Belém, Salvador, Goiânia, Curitiba, Vitória e Vila Velha foram às ruas e janelas de prédios para protestar contra a presidente. Houve panelaço, buzinaços e vaias, com xingamentos, em diferentes bairros”.

Na verdade, a população, aproveitando o resto do domingo para descansar e preparar-se para a batalha de toda segunda-feira, não ouviu nem sentiu quase nada, porque os protestos foram mínimos e localizados. Mas como se deram nos bairros chiques daquelas cidades e foram magnificados pelas reportagens instantâneas das TVs, rádios, jornais e sites de internet, os protestos acabaram assumindo foros de grande manifestação ou mesmo de crise política.

O próprio O Globo diz, num evidente exagero e distorção da realidade que “a presidente enfrentou a mais pesada crítica popular endereçada diretamente a ela desde o início de seu governo, em janeiro de 2011”. Onde estava a crítica, a não ser na matéria capciosa, cujo título destacava, não o pronunciamento presidencial, mas o panelaço fracassado: “Sob vaias e xingamentos na rua, Dilma pede paciência à população para enfrentar crise”.

mapa folha manifestacoes 090315Por sua vez o jornal Folha de S. Paulo, que juntamente com toda a mídia abriu preciosos espaços à tal amnifestação, chegou ao requinte de elaborar um mapa interativo  (clique aí para saber os atos previstos e veja a reprodução do gráfico) para não só noticiar mas sobretudo propagandear vários atos pró-impeachment, programados por baderneiros em praticamente todos os estados da federação.

Estas ações caracterizam a participação ativa da mídia no processo de desestabilização do governo Dilma Rousseff, tal como vêm procedendo suas congêneres venezuelana e argentina. Mas, cuidado, porque o golpe brando está sendo domado a duras penas na Venezuela, onde o presidente Nicolas Maduro denunciou e prendeu indistamente golpistas e midiáticos, e na Argentina, a presidenta Cristina desbaratou a chantagem de um procurador inescrupuloso e agora volta ao centro do poder com todas as condições para indicar seu sucessor e assim preservar o projeto nacional e popular de desenvolvimento com inclusão.

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