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O silêncio de Cristina e as cassandras argentinas

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Até este momento, passadas quase 30 horas da morte de Néstor, Cristina Kirchner permaneceu silente, digna, respeitosa. Nenhuma ponta de ansiedade transparecia no rosto triste desta bela mulher, para quem não parecia haver outra coisa no mundo a não ser velar o corpo do velho companheiro, na longa vigília da Casa Rosada. O cansaço das longas horas insones e em pé não perturbaram o porte altaneiro da mulher, em cujos ombros passaram a pousar os destinos da turbulenta política argentina. A foto ao lado, da Agência estatal Telam, é por demais ilustrativa: Cristina, está ao lado dos filhos com Néstor, Florencia e Máximo, diante do esquife do marido, tendo ao fundo um retrato de Perón. O local é o Salão dos Patriotas Latino-americanos, onde estão os reetratos de Bolívar, San Martin, Joé Martí, Tiradentes, Getúlio Vargas, Che Guevara, inaugurado por Cristina, numa reunião da Unasul, no início do ano, com a presença de todos os 12 presidentes Sul-Americanos.
Indiferente às cassandras que prevêem vazio de poder, incerteza, insegurança, fragilidade e outras desgraças, Cristina Fernandes de Kirchner pode assegurar-se ali mesmo do velório, ao presenciar a enorme multidão que se espraia para muito além da Plaza de Mayo, que o povo veio para despedir-se de Néstor e, também, para apoiá-la. Afinal, ela vinha governando em total entrosamento com o marido, quando menos porque ambos tinham ideias comuns desde que se conheceram na Juventude Peronista, há mais de 30 anos.
Para que se preocupar, então, se, constitucionalmente, ela tem mandato até dezembro de 2011, além de direito de, em seguida, pleitear a reeleição para um segundo período de quatro anos? Sua coerência com os princípios do Partido Justicialista e a relação harmoniosa com os dirigentes destes e a determinação com que se houve nestes quase três anos à frente do governo são outras garantias de estabilidade. Junte-se a isso tudo a aura de heroismo que assumiu Néstor Kirchner, cuja morte repentina fez evidenciar as conquistas históricas dos dois últimos governos. Nestes sete anos, a Argentina foi resgatada, pelas mãos unidas deste casal providencial, da penúria a que lhe relegaram as políticas neoliberais – miséria, quebradeira generalizada, altos índices de desemprego, deflação – para ressurgir como um país com taxas médias de 7% de crescimento, ampla e diversificada política social, considerável mercado interno e uma economia voltada não mais para os interesses dos oligopólios e sim para o projeto nacional de emancipação e unidade com a América Latina

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