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Fidel e sua morte (muitas vezes) anunciada

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(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 15:03)

Enviada por FC Leite Filho
01:29 hs – 17/12/2006 – Na última sexta-feira, 15/12/2006, por volta das 12 horas, liguei para Cláudia Furiati, autora do best-seller internacional “Fidel Castro – Uma Briografia Consentida (Editora Revan-RJ)”, e ela foi direta ao ponto:”Olha, não acredito nesta história de que o Fidel esteja morrendo. Ele está resistindo bem à doença”.
Não sei se ela emitia um juízo, um palpite ou se estava, pura e simplesmente, tirando uma conclusão das informações privilegiadas de que desfruta na cúpula do regime cubano. Como se sabe, desde que escreveu, em 1993, “ZR – o Rifle que matou Kennedy”, em que constrói a teoria – muito plausível, a meu ver – de que o ex-presidente americano foi assassinado pela Máfia americana em conjunção com os exilados cubanos em Miami -, Cláudia Furiati virou uma expert das mais credenciadas em Fidel. Ela mergulhou durante quase nove anos nos arquivos privados do líder barbudo e do serviço secreto cubano para escrever aquela biografia (para isso teve de morar cinco anos em Havana) lançada em dois volumes pela Revan, no Brasil, em 2001, e outras editoras nos Estados Unidos, na Europa e em outros países latino-americanos.
Bom, mas eu liguei para ela para pedir uma entrevista para este blog Café na Política . Não a conhecia e seu telefone me foi transmitido, muito gentilmente, diga-se de passagem, pelo ex-ministro Roberto Amaral, da Ciência e Tecnologia, que eu fiquei conhecendo nas minhas andanças pela Câmara dos Deputados e movimentos sociais. Roberto é autor de judicioso prefácio da última edição brasileira de “Fidel Castro – Uma Biografia Consentida”, agora condensada num único volume, e acrescido de um novo capítulo de atualização dos fatos ocorridos entre 2001 e 2006.
“Próximo da morte” – Mas naquele instante do telefonema (eu falava de Brasília e ela, do Rio) ela estava muito atarefada. E eu a compreendo, porque lhe havia telefonado justamente porque vira um despacho do Washington Post, no qual o Chefe da Inteligência Nacional dos Estados Unidos, John Negroponte, dizia que Fidel Castro estava “muito doente” e próximo da morte, e que seu estado”era uma questão de meses, não de anos”. Bom, como se depreende do alto posto que ocupa, Negroponte pode ser considerado sem exageros como o homem mais informado do mundo.
A notícia das declarações de Negroponte, feitas durante uma reunião, realizada com editores e repórteres do Post, tinha aparecido na página A23 daquele jornal, edição de sexta-feira, 15/12/06, e retransmitida no site respectivo da internet.
Na verdade, eu nem cheguei a comentar o fato com a Cláudia, porque ela estava sem tempo e pediu que retornasse a ligação por volta das 18h30m daquele mesmo dia. Eu queria uma entrevista gravada para reproduzi-la neste site, tanto em texto como em áudio (acabara de adquirir um mini-gravador digital-stéreo da Sony), para honrar este nosso compromisso multimídia e também dar autenticidade à nossa informação.
A entrevista acabou não se concretizando (liguei de volta para Furiati no horário aprazado, mas a Telemar dizia que o número estava inalcançável, sei lá eu por quê). Imaginei que a escritora estivesse, naquela hora, em altas confabulações, e por isso não pudesse me atender e não quis mais perturbá-la.
O fato, porém, é que, quando lhe falei, ela se mostrou receptiva e foi até taxativa com relação ao estado de saúde do Fidel. “Não acredito nestas histórias, o Fidel está resistindo e até muito bem”. Eu ainda indaguei por que razão ela não havia se pronunciado sobre aquele noticiárioe Cláudia Furiati me esclareceu que já tinha dado várias entrevistas aos jornais, só que estes não tinham publicado nada a respeito, talvez na expectativa de um desfecho fatal. Ou será por que ela estava na contramão do fluxo do noticiário todo ele apostando na morte próxima do líder cubano?
Açodamento – Com efeito, a imprensa ocidental, sobretudo a americana e a inglesa, estava ouriçadíssima nas últimas semanas. O jornal inglês The Independent já havia decretado: Fidel Castro sofre de um câncer terminal, depois veio esta declaração do Negroponte. Mas aqui a gente observa uma certa indulgência: o chefe da inteligência já não fala em estado terminal, ele diz que Fidel está próximo da morte, mas que pode durar ainda meses, não anos.
As declarações de Negroponte, como era de se esperar, tiveram grande repercussão, tanto que pouco depois do despacho do Washington Post, o presidente da Venezuela e discípulo de Fidel, Hugo Chávaez, anunciou para o mundo que Fidel não tinha câncer, ainda que admitisse que o líder cubano padecesse uma doença grave. “O Fidel não tem câncer, estou bem por dentro disso”, afirmou o presidente diante de seus chefes militares. Chávaez informou que havia falado diretamente com Fidel pelo telefone e ainda fez troça: “Vou-lhe mandar uns chocolates, porque ele está se recuperando e começando a diversificar dieta”.
Daí para frente, o Washington Post, que reproduziu as declarações de Chávaez, emitiu uma série de outros despachos em que, reproduzindo material da Reuters, AFP e outras agências, dizia que Fidel havia se comunicado com dirigentes do Partido Comunista e do Governo de Cuba, também através do telefone. Bom, a questão aí já não era exatamente de um paciente em situação desesperadora, ou era?
Coisas da mídia – Coisas da mídia, que, pelo visto, é uma só, aqui e alhures. Isto me faz lembrar o livro de Anthony De Palma, jornalista americano do The New York Times, “O Homem que inventou Fidel Castro”, lançado recentemente no Brasil pela Companhia das Letras. O livro conta a história de Herbert Matthews, repórter e editorialista do mesmo NYT, que havia feito uma entrevista com Fidel, em Sierra Maestra, em 1957, meses depois que o então regime de Batista havia anunciado a morte em combate de Fidel e seu irmão Raul Castro.
De Palma começou a se interessar pelo tema, em 2001, quando seu editor no Times lhe solicitara para fazer o quê? Exatamente o obtuário de Fidel Castro, como está escrito naquele livro à página 15 (Introdução) da edição brasileira. Fidel, então com 75 anos, e de aparência ultimamente frágil, havia desmaiado no momento em que falava às multidões, debaixo de um sol escaldante, numa daquelas manifestações-monstro, em Havana.
Mas é também Antony De Palma, um especialista em política latino-americana e ex-correspondente do Times no México, que tece toda a sua narrativa a partir de uma patranha que Fidel preparou para Herbert Matthews. Elel lhe deu a entender que contava em Sierra Maestra com uma coluna de soldados, quando na verdade dispunha apenas 18 homens armados. A patranha maior de Fidel, na verdade, também fartamente abordada por Furiati em seu livro, foi a de corroborar, durante meses, com o seu silêncio, a versão de Batista: de quehavia morrido com seu irmão, logo depois de ter desembarcado numa região pantanosa, no oeste de Cuba, vindo do México, para deflagrar a revolução.
Estes antecedentes me levam a indagar: será que Fidel não estará aprontando outro armadilha para estontear seus poderosos inimigos, à frente a mídia ocidental, enquanto se dedica a um trabalho interno para reforçar as bases do regime cubano, agora que Chávaez, seu provável sucessor na liderança do hemisfério, coleciona uma série de vitórias, dentro e fora da Venezuela, para consolidar sua revolução bolivariana? Um caso a considerar seriamente (FC Leite Filho).
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