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Crítica do filme “500 Dias com ela”

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(Publicado originalmente em Dom, 08 de Novembro de 2009 11:13)

Por Reynaldo Domingos Ferreira.

Veja aqui o trailer.

Com referências a filmes, músicas e quadros famosos, o estreante Mark Webb, egresso da produção de vídeoclipes, faz, em 500 Dias Com Ela, uma comédia romântica, poética e bem humorada, de uma corriqueira conquista amorosa, narrada, porém, num formato original, não-cronológico, e com a utilização de variados recursos estéticos e fantasiosos.

  O roteiro de Scott Neustadter e Michael Weber se apoia num narrador (Richard McGonagle) para expor o período de 500 dias em que transcorre o envolvimento dos protagonistas – Tom Hanson (Joseph Gordon-Lewitt) e Summer Finn (Zooey Deschanel). Mas, se a primeira cena acontece no 488º dia, quando ambos aparecem numa audiência judicial, a seguinte já não obedece à cronologia, pois, nela, Tom está reunido com o seu chefe Vance (Clark Gregg), quando este lhe apresenta Summer, sua nova assistente.

 Tom se encanta com a beleza de Summer (  na tradução, Verão, alusão à estação em que não só as chuvas são passageiras), e sobre isso comenta com os colegas. O narrador explica  que Tom cresceu ouvindo a história de que existem almas gêmeas que, um dia, podem se encontrar. E outras lorotas que tais!… E, pior, na adolescência, nos anos sessenta, segundo ainda o narrador, ele entendeu de maneira errônea a mensagem de A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nickols, símbolo da contracultura da época.

Embalado por essa sua convicção, Tom se mostra ansioso por uma oportunidade para conversar, com mais vagar, com Summer, sem as atribulações do dia a dia no trabalho. Isso acontece, certa noite, quando a encontra no karaokê, que ele frequenta com os amigos. Então, mais seduzido fica ainda ao vê-la cantar com um sorriso insinuante, que atribui ser para ele…

 E, de fato, é, pois, logo depois, aceitando sentar-se à mesa, com ele e com os amigos, Summer lhe dá bem noção disso. Mas ressalva que a ela interessa apenas a amizade, já que, em sua opinião, não há sentimento que sempre dure. Tanto assim que, conforme alega, os pais dela acabaram se separando. Todo o castelo de sonhos de Tom, ao final daquela noite, despenca, vem abaixo.

 Mas a Summer, uma experiente, que, desde o colégio, tivera algumas “amizades”, não custa testar até aonde vai a resistência de Tom. Ele é um apaixonado por arquitetura, mas trabalha, como simples ilustrador de cartões de saudações de nascimento, de aniversário, de casamento e até de morte. Quando ele sai, em  companhia dela, pelas ruas de Los Angeles, admirando a linha arquitetônica de edifícios construídos ao início do século XX, revela, por exemplo, o seu conservadorismo.

 Mas o teste maior a que Tom se submete evidentemente acontece na noite em que Summer o convida a ir ao seu apartamento (decorado, por sinal, com a reprodução de um quadro de Cézanne), passar a noite com ela. Então, na manhã seguinte, se opera repentina alteração no comportamento de Tom que, se julgando previamente vencedor e divagando pelas ruas e avenidas, em contato com os transeuntes, passa a ver a vida como se fora um verdadeiro musical.

 É a partir daí que a linguagem de Webb ganha intenso brilho, auxiliada não só por uma trilha sonora de excepcional qualidade, de Mychael Danna e Rob Simonsen , como também  por dois intérpretes, Joseph Gordon-Lewitt e Zooey Deschanel, que se ajustam cabalmente à linha de sua direção. Esta abrange, além de outras especificidades de mise-en-scène e do esmero na composição de planos captados pela fotografia de Eric Steelberg, a repartição da tela em quadros – expectativa/realidade – a coreografia, o grafismo e a animação. A par disso, Webb expõe, en passant, suas preferências por filmes suecos e franceses e por Guerra nas Estrelas, de George Lucas.

Mas, como ainda advertira o narrador, a película não conta uma história de amor. Por isso, Tom, vendo-se forçado a esquecer Summer, e não tendo condições de se entregar à literatura como Henry Miller, segundo lhe lembrara um amigo, volta a ficar na expectativa de que outra criatura, próxima de seus sonhos, um dia, lhe apareça. E não é que ela vai surgir?… Justo num ambiente de arquitetura tradicionalista, requintada, como não poderia deixar de ser e, com que nome?…  Autumn (Outono), que sugere, afinal, o sentido da maturidade, de que Tom precisa. Uma jóia.
FICHA TÉCNICA
500 DIAS COM ELA
500 DAYS OF SUMMER
EUA/2009
Duração – 95 minutos
Direção – Mark Webb
Roteiro – Scott Neustadter e Michael Weber
Fotografia – Eric Steelberg
Música Original – Mychael Danna e Rob Simonsen
Edição – Alan Edward Bell

Elenco – Joseph Gordon-Lewitt (Tom Hanson), Zooey Deschanel (Summer Finn), Geoffrey Arend (McKenzie), Chloe Moretz ( Rachel Hanson), Clark Gregg (Vance), Patricia Belcher (Millie), Rachel Boston (Alison).

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