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Morre Bautista Vidal, grande físico e nacionalista

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Morreu esta tarde, em Brasília, o físico e grande nacionalista Joé Walter Bautista Vidal. físico brasileiro, ex-professor da Universidade de Brasília que, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), foi o idealizador do motor à álcool, e consequentemente do programa do álcool, a solução brasileira para a preservação dos combustíveis fósseis. Foi também por três vezes Secretário de Política Industrial.

(Veja abaixo artigos de Adriano Benayon e Beto Almeida)

J. W. Bautista Vidal é autor de 12 livros, dentre eles se destacam: -De Estado Servil à Nação Soberana – Civilização Solitária dos Trópicos -Soberania e Dignidade, Raizes da Sobrevivência -O Esfacelamento da Nação -A Reconquista do Brasil Esses quatro títulos são um depoimento sobre os acontecimentos do tempo em que fez parte do governo como principal mentor do Pro-Alcool. A leitura é obrigatória, como diz a Wikipedia,  para quem quer entender mais sobre a economia Brasileira e o porquê de sermos tão tecnologicamente dependentes dos países não tropicais, mesmo sendo aqui o melhor lugar para se produzir combustíveis renováveis. Bautista Vidal foi assessor e depois ex-pré-candidato a presidente da República pelo PDT, onde desenvolvia sua pregação nacionalista. Na TV Cidade de Brasília, canal 8 da NET, ele levava a sua pregação em frequentes debates com  o jornalista Beto Almeida (Leia artigo abaixo), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães e outros defensores de um Brasil mais soberano,

A seguir, um vídeo da TV Cultura, que mostra bem a verve nacionalista de Vidal:

Artigo de Beto Almeida (Presidente da TV Cidade Livre de Brasília

A TV Cidade Livre de Brasília cumpre o doloroso dever de comunicar ao público em geral , mas especialmente ao enorme contingente de admiradores, amigos e seguidores do professor Bautista Vidal, o criador do Pró-Alcool, o seu falecimento ocorrido na tarde de hoje, em Brasília. O velório será realizado amanhã, domingo, das 15 às 18 horas, na Capela 3 do Cemitério do Campo da Esperança, nesta capital.
José Walter Bautista Vidal, foi um cientista e professor, físico brasileiro de renome internacional, ex-professor da Universidade de Brasília que, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), foi o idealizador do motor à álcool. Escritor talentoso, conferencista brilhante, Bautista Vida foi autor de 12 livros, dentre eles se destacam: -De Estado Servil à Nação Soberana – Civilização Solitária dos Trópicos -Soberania e Dignidade, Raízes da Sobrevivência -O Esfacelamento da Nação -A Reconquista do Brasil . ‘

Seu último livro, “A Economia dos Trópicos” é uma crítica contundente ao pensamento da Cepal, tomando posição em defesa de um desenvolvimento autônomo e soberano dos países semi-coloniais a partir de uma ruptura com o sistema de dominação internacional, baseado no que ele chamou de “Tirania vídeo-financeira”. Grande parte de sua obra é um relato da experiência do tempo em que fez parte do governo como principal mentor do Pro-Alcool, quando ocupou o cargo de Secretário de Tecnologia Industrial, tendo impulsionado a formação e a desenvolvimento de centenas de centros tecnológicos, a formação de quadros e uma visão estratégica sobre o potencial brasileiro a partir da energia da biomassa e também da alcoolquímica, sistema que, segundo sustentou, deverá substituir com inúmeras vantagens, entre elas a ambiental, a economia da petroquímica.

Seus livros são leitura obrigatória para quem quer entender mais sobre a Economia Brasileira, sobre o Jogo do Poder Energético mundial e as razões da nossa dependência tecnológica, advogando serem os trópicos a região mais adequada e insuperável para a produção de combustíveis renováveis, tema que o levou a ter largos encontros com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, a quem sugeriu a formação de uma ferramenta de estado capaz planejar, articular e organizar o desenvolvimento da energia renovável. Pouco tempo depois é criada a Petrobrás Biocombustíveis, mas o professor Vidal sempre argumentou ser necessária uma estrutura independente da Petrobrás, sustentando que há um cultura petroleiro dominante que inibe e sabota o rápido desenvolvimento das energias renováveis, entre as quais a da biomassa.

Bautista Vidal sempre foi constantemente convidado para proferir palestras nos mais renomados centros científicos internacionais, nas quais discorria com uma eloqüência que causava admiração acerca dos limites e problemas produzidos pela economia petroleira, com ramificações , como alertava, nos sistemas financeiros, midiáticos e , especialmente, militar, sendo atualmente o principal fator das mais recentes guerras, sobretudo pela enorme dependência das potências imperialistas do petróleo produzido pelos países não desenvolvidos. Denunciou com coragem ímpar a manipulação midiática por parte das potências imperiais em torno de uma suposta guerra ao terrorismo, usada, como encobrimento de uma verdadeira guerra de rapina pelos recursos energéticos de outros povos. Esses temas foram objeto de largas conversações entre Bautista Vidal e o falecido presidente Hugo Chávez, o governador Leonel Brizola, o ex-governador Roberto Requião e sempre esteve presente na entranhável amizade que o ligou a intelectuais e artistas como Glauber Rocha, Ariano Suassuna, Gilberto Felisberto Vasconcelos, Moniz Bandeira, Darcy Ribeiro, Beth Carvalho, mas também aos movimentos populares, como o MST, sindicalistas vinculados às centrais sindicais, com os quais mantinha frutíferos e solidários diálogos.

Uma das inumeráveis qualidades do professor Bautista Vidal revelava-se em sua inteligente e sistemática crítica ao sistema midiático dominante, razão que o levou escrever e dar conferências sobre o tema, a elaborar este conceito de “tirania vídeo-financeira” e, também, a participar ativamente das lutas pela democratização dos meios de comunicação, e, em especial, a ser homenageado como Presidente de Honra da TV Cidade Livre, o Canal Comunitário de Brasília, onde sua presença nas telas era sinal de brasilidade e de compromisso com o povo brasileiro na programação.

Crítico implacável do neoliberalismo, da devastação dos meios produtivos nacionais, do entreguismo indefensável do patrimônio público brasileiro, Bautista Vidal, lutou incansavelmente contra a privatização da Cia Vale do Rio Doce, qualificando aquela operação como um “crime de lesa pátria”, razão que o levou a ingressar com Representação na Procuradoria da Justiça Militar contra o Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, acusando-o de alienar território nacional, seu subsolo, o que possui grave tipificação nos códigos militares e também na Constituição Federal.

Apaixonado pelo Brasil, pela sua cultura, sua história e pelo o seu povo, Bautista Vidal escreveu, em parceria com Gilberto Felisberto Vasconcelos, um pungente livro intitulado “Petrobrás – um clarão na história”, no qual homenageia a obra do ex-presidente Getúlio Vargas e sustenta o enorme potencial brasileiro para transformar-se numa Nação desenvolvida, justa, generosa. “Não existe razão para que exista uma única pessoa pobre no Brasil”, costumava argumentar.

A TV Cidade Livre de Brasília, que teve a honra e o privilégio de contar com a inteligência, a coragem, a bravura e a lucidez do prof Bautista Vidal em seus quadros, em seus programas, em sua luta diária para que se faça uma televisão a favor do Brasil, a favor da civilização, sem concessões a conteúdos embrutecedores e de baixo padrão civilizatório, rende sua mais sentida e profunda homenagem a este grande brasileiro que , como Darcy Ribeiro, nos deixa um grande legado e uma grande tarefa: a de transformar este país naquilo que ele tem que ser, que ainda não é, mas haverá de ser: um país justo, desenvolvido para todos, generoso com todos os povos e uma alavanca para um novo padrão solidário de civilização.

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Bautista Vidal, incansável defensor dos interesses nacionais

Adriano Benayon * – 05.06.2013

O criador do Programa do Álcool, José Walther Bautista Vidal, faleceu no sábado 01 de junho. O pesar foi grande para as centenas de milhares de brasileiros e brasileiras que o conheceram, participaram de suas palestras, leram seus livros e tiveram conhecimento de suas realizações à frente da Secretaria de Tecnologia Industrial (STI) do Ministério da Indústria e do Comércio, de 1974 a 1978, e das que levou adiante e inspirou depois disso.
Mas, desde logo, veio à mente dos seus amigos a memória da vitalidade e do entusiasmo produtivo que caracterizou a existência de Bautista Vidal. De fato, uma das qualidades que o distinguiu, é a de lutador.
Certamente o que seu espírito está esperando de nós é darmos prosseguimento à luta que foi sua principal razão de viver: esclarecer nossos compatriotas para que se libertem do jugo da tirania financeira, que abrange não só o cartel anglo-americano do petróleo e associados, mas também o que ele denominou a tirania videofinanceira, a que assegura a escravização por meio da desinformação e da destruição dos valores civilizatórios.
Os que estivemos juntos com Bautista Vidal – em palestras, reuniões e encontros em numerosas cidades brasileiras – sabemos que ele semeou informações científicas e técnicas e, mais que isso, despertou a chama do sentimento nacional e a compreensão de que a grandiosidade do País é incompatível com a situação a que nosso povo está sendo submetido: a de ser pretensamente governado, há decênios, por medíocres e covardes, meros executantes do que determina a oligarquia capitalista estrangeira.
Que não se iluda quem pensar que estas palavras contêm viés ideológico. Com efeito, entre os que absorveram lições de Bautista Vidal está gente da extrema esquerda à extrema direita.
O que tem em comum toda essa gente? Simplesmente o sentimento de nacionalidade e a percepção de que o Brasil está sendo saqueado, que não merece sê-lo e que há que abandonar a passividade: mudar esse estado de coisas. Só não compreendem a demonstração de coisas concretas e objetivas aqueles cujas sinapses interneuronais estão bloqueadas por preconceitos.
As veementes condenações de Bautista Vidal dirigiam-se aos que se submetem às falsas verdades convencionais, veiculadas notadamente por organismos internacionais, como o Banco Mundial, a OMC e a própria CEPAL, cujas políticas Vidal desnudou em seu último livro, “A Economia dos Trópicos”.
Bautista Vida escreveu 12 livros, entre os quais: De Estado Servil à Nação Soberana; Civilização Solidária dos Trópicos; Soberania e Dignidade; Raízes da Sobrevivência; O Esfacelamento da Nação; A Reconquista do Brasil; Petrobrás – Um Clarão na História”, no qual ressalta a importância das ações do presidente Getúlio Vargas.
Na Secretaria de Tecnologia Industrial (STI), Bautista Vidal fundou o Programa do Álcool, graças ao qual o Brasil foi o primeiro País a dominar plenamente a tecnologia de fabricação eficiente de álcool combustível. Em determinada altura dos anos 80, praticamente todos os carros produzidos no Brasil eram movidos a etanol.
O Programa do Álcool só não deu maiores frutos porque sofreu influências deletérias, determinadas pelo endividamento do País, causado pelo modelo dependente. Entre essas influências, a do Banco Mundial, que fez privilegiar as grandes usinas e as plantations de cana-de-açúcar. Isso difere muito do que foi idealizado pelos técnicos sob a direção de Vidal: produção descentralizada, evitando os gastos do transporte, geralmente em caminhões a diesel de petróleo, por centenas de quilômetros, da cana até as destilarias e o caminho inverso na distribuição do combustível.
Ademais, nessa indústria, que era nacional – e que, por isso mesmo, realizou importantes desenvolvimentos tecnológicos no País – o projeto da STI abrangia também a bioquímica do etanol e a dos óleos vegetais, com enorme potencial para criar novos produtos substituidores dos obtidos através da petroquímica.
Bautista Vidal engajou mais de 1.500 técnicos e pesquisadores e estruturou numerosos centros de pesquisa tecnológica, desmontados pelos governos entreguistas que se seguiram. A STI legou, entretanto, o modelo e as soluções adequadas, não só para a produção descentralizada de álcool – combinada com a pecuária e a agricultura – mas ainda as bases para o aproveitamento das magníficas plantas oleaginosas do País, como dendê, macaúba e pinhão manso.
Tudo isso é, até hoje, boicotado e inviabilizado pela ANP, Petrobrás, MME e demais instituições oficiais, de há muito teleguiadas pelos interesses do cartel mundial do petróleo.
Bautista Vidal não obteve êxito em sua proposta de criar a Empresa Brasileira de Agroenergia, ideia que defendeu em encontros com Lula e colaboradores do governo deste. A Petrobrás Biocombustíveis, que resultou desses esforços, não realiza coisa alguma do recomendado desde os anos 70 pela antiga STI.
Nos anos 80 e grande parte dos anos 90, Bautista Vidal disseminou seus conhecimentos e experiências como Professor na Universidade de Brasília, no Departamento de Tecnologia e coordenador de importantes debates no Núcleo de Estudos Estratégicos. Aí palestrou e convidou palestrantes dos mais destacados de todas as áreas de grande interesse para o País.
Suas intervenções – junto com as do grupo multidisciplinar que, durante muitos anos, participou desses debates – produziram um acervo de contribuições que teriam servido de base para o planejamento estratégico de qualquer país dotado de governos interessados no desenvolvimento nacional.
Entre os valiosos ensinamentos que Vidal transmitia, mencionarei só um, que costumo reiterar em meus artigos, tal é a falta de entendimento, para a grande maioria das pessoas, deste fundamental conceito: a empresa produtiva, concorrendo no mercado, é o único lugar em que é possível desenvolver tecnologia.
Consequentemente: 1) um país cuja indústria estiver em mãos de empresas transnacionais estrangeiras jamais desenvolverá tecnologia. 2) Se a quiser desenvolver, terá que adotar reserva de mercado. 3) De pouquíssimo servem os institutos e centros de pesquisa, se empresas nacionais (de capital nacional) não operarem no mercado com condições de se manterem e desenvolverem.
É de destacar, ainda, a ação exemplar do professor Bautista Vidal como militante na defesa do patrimônio nacional saqueado com as privatizações determinadas pelas potências hegemônicas e impostas pelos governos lacaios de Collor e FHC. Com elas a União Federal gastou centenas de bilhões de reais (nada recebendo em valor líquido) para entregar patrimônios públicos de valor imensurável, avaliados, em visão de curto prazo, em dezenas de trilhões de dólares.
Recordou-me uma das admiradoras do Professor tê-lo visto, em pé, a bordo de um caminhão, com outras figuras ilustres, como o General Antônio Carlos Andrada Serpa, manifestando contra a criminosa doação (privatização) da Cia. Vale do Rio Doce.
Lembra, a propósito, o jornalista Beto Almeida, ter o Professor ingressado com representação na Procuradoria da Justiça Militar contra o ex-presidente FHC, acusando-o, fundamentadamente, de alienar o subsolo, território nacional, o que constitui crime dos mais graves entre os cominados pelo Código Penal Militar.
* Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento. Foi vice-presidente do Instituto do Sol, presidido por Bautista Vidal. Após, durante cinco anos, suscitar projetos de energia da biomassa em várias cidades do interior do País, o Instituto foi desativado por falta de interesse do governos federal e de governos estaduais em promover esse modo democrático, econômico e ecológico de produzir energia.

1 COMMENT

  1. Parabéns pela excelente matéria!

    Vejo tudo isto acontecendo diariamente e meu discurso é acusado de ser conspiratório, quando vejo que os painéis político e pseudocientíficos vão se instaurando no nosso país. Além do IPCC, representado pelo PBMC, teremos, a partir de 2015, a formação do IPBes que exigirá que a Natureza preste serviços ambientais para a existência do Homem, ou seja, privatizaremos todo o território brasileiro.

    Ricardo Augusto Felicio
    Prof. Dr. Climatologia

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